Mandacaru resistente

Nas secas Sobrevivi

Na praça fui atração

Das reformas resisti

Com o meu porte imponente

Motosserra nunca vi.

.

Amanhã é o meu dia

Nosso sexto mês raiando

O quinto dia do mês

Vou de joelhos rezando

Transpirando sol a sol

Segundo alguns, chorando.

.

A beleza da caatinga

Espinhos de armadura

Sou guerreiro da campina

Descampada por secura

Sou o verde no deserto

Esperança que perdura.

.

E não vem que não tem vez

Não me importa ver o rosto

Bom tirar leite de pedra

Seja de qual for o posto

Pra quem mama sem parar

Não dou sombra nem encosto.

.

Diz o Xote das Meninas

Cantado por Gonzagão

Minha flor que traz a chuva

Sábio o rei do baião

Símbolo raro da vida

Mato sede no sertão.

.

O dia cinco chegou

Do mês junino enfim

Dois mil e treze passando

Um ano comum pra mim

Dia ao meio ambiente

Não esperava meu fim.

.

E foi cortado sem pena

Esquartejado sem dó

A homenagem do ano

Foi arrancá-lo e só

Tirando nossas raízes

Transformando-nos em pó.

.

Viveu décadas de vida

Emblema sertanejar

Nesta praça importante

Está morto, não verá

O futuro deste povo

Mandacaru verdejar.

.

.

*Poema de 2013. A imagem e a retirada do mandacaru são reais, infelizmente.

11 respostas

  1. O nosso imponente e venerado mandacaru, caro Paulo, se sucumbiu à fúria de brucutus travestidos de gestores públicos. Creio que, seus versos, é hoje a lembrança mais presente na memória do povo brumadense. Parabénsss!!!

  2. Parabéns, Paulo!
    Uma das coisas que para faz com que você seja grande, não obstante o talento, acima de tudo a sensibilidade!

  3. Em fim… entre tantos outros seres verdejantes ninguém ousará em fazer de mim um híbrido, um transgênico ou simplesmente uma tora para queimar no São João porque continuarei vivendo no sertão só e sozinho mas feliz por gerar a flor e o espinho.
    Grande poeta e irmão… belíssima provocação Paulinho…

  4. O ritmo em redondilha maior marca a verve cordélica do poeta em transmitir o contexto do tema.
    Dia 28 de abril comemora-se o mandacaru, símbolo da resistência da caatinga.

  5. Parabéns! A poesia ficou linda e forte. O mandacaru, símbolo de resistência do sertão, sendo cortado justo no Dia do Meio Ambiente, é uma crítica marcante. Você conseguiu dar vida a ele de forma tão tocante, que mesmo com o fim triste, sentimos sua força.

  6. Depois de mais de dez anos, a destruição do Meio Ambiente continua, infelizmente!
    A espécie humana, alienada, parece não se dar conta de que a destruição da Natureza significa seu próprio desaparecimento. Triste!

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