De Versos Sentidos é uma elegante antologia poética escrita pelo meu nobre amigo Paulo Esdras. Esdras é um polímata de mão cheia: poeta, contista, cronista, romancista e dramaturgo. Aos poucos ele vai dando vazão à sua literatura. A primeira obra foi lançada em 2021, o romance Sadres, o sábio, o louco e o poeta, uma belíssima narrativa sobre amor, ternura, solidariedade e filosofia de vida. Agora lança o segundo livro, uma antologia poética bem diversificada composta por poemas concretos, visuais e tradicionais. Certamente em breve, ele lançará mais livros ̶ quiçá em outro gênero literário.

Os poemas concretos e os visuais são tão singulares que é impossível apenas classificá-los ao pé do conceito concreto ou visual. Tradicionalmente um poema dessa modalidade é apenas um poema, apesar das diversas possibilidades significativas ou por constituir apenas um signo. No caso da poética visual de Esdras um poema pode ser mais que um poema. Ele arquitetou de tal forma os poemas que uma mesma composição poética pode ter vários discursos e significados diferentes. Isso vai depender da maneira como o leitor vai ler. Um belo exemplo é Mulher Sol: três poemas em um. Nele, há um espaço em branco separando em cada verso a primeira palavra das demais. Quando li ̶ na nossa maneira natural de ler da esquerda para a direita ̶ percebi um poema com toda a carga denotativa e conotativa que a interpretação possibilitava. Depois, li ignorando a cesura e vi que havia um novo sentido, formando assim outro poema. Em seguida, li apenas a parte da cesura que formava uma estrutura poética com versos monossílabos e dissílabos: encontrei um novo poema e novo significado. Assim, um poema na poética de Esdras, pode ser vários em um. São, na verdade, poemas siameses duplos, triplos, e com significados diferentes. Além dessas multiplicidades, a arquitetura do poema pode enunciar apenas um poema já que a estética, os espaços vazios ou preenchidos da composição é que ditarão o tom do discurso poético.

Um dos poemas visuais da antologia “De Versos Sentidos”
Imagine a figura de uma casa cuja base, paredes, telhados, janelas e portas são formadas por palavras requintadamente dispostas a formar um poema; um poema com vários significados a depender de onde começarmos a leitura. Pois esse é apenas um exemplo da composição poética de Paulo Esdras! Há também, nesta antologia poemas que bem nos lembram as esculturas de Tomie Ohtake ou até de Louise Bourgeois! No fundo, no fundo Esdras é um escultor de palavras!

Além das belas esculturas poéticas, há os poemas tradicionais que também são diversos: alguns estilos modernistas, outros fixos ao gostoso estilo da literatura de cordel. Veja como esse livro é heterogêneo. Por falar em diverso, o título já é um belo exemplo da inteligência poética de Esdras: De versos sentidos. Há, claro, diversos sentidos neste título, inclusive o vocábulo “sentidos” significando direção, já que a depender da direção que o leitor der à leitura poderá chegar a diversos sentidos (significados). Podemos pensar em sentidos enquanto conceito de direção, já que nos poemas visuais a direção que o leitor tomar durante a leitura trará à composição poética um novo discurso poético. E versos sentidos também nos remete ao particípio adjetivado significando sentimento, ou percepção… Polissemia pura! Até o título do livro é um poema!

O poema A procura da menina faceira segue o bom estilo modernista: versos livres. Neste poema, além do romantismo há a referência à deliciosa e mais tradicional festa nordestina: o São João. Ainda nesta toada modernista está o poema O tempo, uma sisuda reflexão sobre o tempo e a ação dele no ser humano, formada por onze estrofes. Este belo terceto fecha a reflexão filosófica e recheada de lirismo que começou afirmando; “O segredo do tempo é consumi-lo sem percebê-lo. Para o poeta, o tempo:

“Deixa-nos a esperança de Pandora
Nas ações que virão
No nascimento dos rebentos.”

Como bom nordestino, em poemas ao estilo da literatura de cordel Esdras louvou o belo Nordeste, cantou um mandacaru em setilhas perfeitas.

Esdras em explanação na Feira Literária de Andaraí -BA
Esdras em explanação na Feira Literária de Andaraí -BA
Eu tive o prazer de ler em primeira mão este livro, de sentir os poemas e o encanto que eles propiciam! Também tive a grata honra de prefaciá-lo! No prefácio falei do meu contentamento ao ler esta obra:

“De Versos Sentidos é como um aconchegante museu de artes plásticas, dado às variadas obras poéticas expostas nesta nobre antologia. Eu entrei no museu poético chamado De Versos Sentidos! Eu tive a felicidade de visitar e sentir todas as obras poéticas expostas em De Versos Sentidos. E estou certo do prazer, da fruição, da reflexão que todo leitor terá ao entrar, ler e sentir De Versos Sentidos!”

O novo livro de Paulo Esdras é um rebento promissor na poética brasileira.

Por: Vald Ribeiro
https://revistapalavras.com.br/2024/01/09/o-novo-livro-de-paulo-esdras-e-um-rebento-promissor-na-poetica-brasileira/

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